Ao observar os efeitos indesejados do uso de antidepressivo em idosos que vivem em uma casa de repouso em Alfenas, acadêmicos do curso de Medicina da UNIFAL-MG identificaram dados que ajudam a compreender a segurança e tolerância ocasionadas pelo uso da sertralina. O estudo ganhou repercussão na edição de março/abril da revista Brazilian Journal of Health Review, publicação bimestral de artigos científicos de Curitiba-PR.
Lucas Pereira Goulart, Marco Antônio Freire Mendes e Victoria Domingues Carvalhaes – acadêmicos do curso de Medicina e autores do estudo. (Foto: Arquivo Pessoal)
Orientado pela médica Isabela Tibúrcio Cabral, professora da Faculdade de Medicina (FAMED) da UNIFAL-MG, o estudo é fruto do trabalho de conclusão de curso desenvolvido pelos discentes, Lucas Pereira Goulart, Marco Antônio Freire Mendes e Victoria Domingues Carvalhaes.
Para realizar a pesquisa, o grupo investigou dados da população idosa institucionalizada no Lar São Vicente de Paulo, em Alfenas, com o propósito de investigar características e padrões de saúde. Foram analisados fatores como idade, gênero, histórico de intercorrências como quedas, distúrbios, quadro clínico prevalente para depressão e uso de medicamentos.
“Essa análise teve como objetivo fornecer insights sobre a saúde e as necessidades desses idosos, visando contribuir para a melhoria da qualidade de vida e do atendimento oferecido pela instituição”, esclarece a professora Isabela Cabral.
A escolha do tema foi motivada, conforme os autores, pela necessidade de evidências em populações específicas, que contam com diferentes aspectos do metabolismo e fisiológicos. Além disso, a pesquisa se propôs destacar a prevalência de depressão em idosos e como o tratamento é feito na prática atual, a partir da observação e entrevistas conduzidas junto aos idosos que vivem no Lar São Vicente de Paulo.
Orientadora do estudo: Profa. Isabela Tibúrcio Cabral – Faculdade de Medicina. (Foto: Arquivo Pessoal)
“O estudo buscou alertar os riscos associados ao uso de medicamentos em idosos, tanto na questão de efeitos adversos, como na interação medicamentosa, bem como apontar a falta de evidências disponíveis nessa lacuna de conhecimento específica”, relata a orientadora.
Com o aprofundamento de pesquisas nessa área, a professora Isabela Cabral comenta que será possível fornecer informações para os profissionais de saúde que atendem a população idosa, assim como causar um impacto positivo na prática clínica.
A abordagem quantitativa considerou dados dos registros fornecidos pela diretoria da instituição, dos quais foram selecionados 11 idosos participantes, sendo oito mulheres, representando 72,7% do universo pesquisado, e três homens, correspondendo a 27,3%. “Esses registros foram recebidos em forma de relatório, contendo apenas as informações específicas listadas, sem identificação, garantindo assim o anonimato dos dados”, pontua.
Resultados
O projeto de pesquisa foi iniciado no 4º período do curso, como parte da avaliação da disciplina “Trabalho de Conclusão de Curso I” e se estendeu até o 8º período. Um dos primeiros fatores identificados foi a prevalência de efeitos adversos. “Houve uma prevalência considerável de efeitos adversos, sendo os mais comuns a sonolência, efeitos gastrointestinais e cefaleia. Esses resultados fornecem insights importantes sobre a segurança e tolerância do antidepressivo nesta população”, diz.
Imagem ilustrativa. (Satrio Ramadhan/Reprodução/Canva Education)
A complexidade da polifarmácia também foi apresentada como um dos resultados no trabalho. “O uso da sertralina em conjunto com outras medicações destacou a complexidade da polifarmácia em idosos, ressaltando a necessidade de compreender e gerenciar as interações medicamentosas para evitar efeitos colaterais indesejados e otimizar a eficácia do tratamento”, explica a orientadora.
Foi observada ainda uma frequência de quedas entre os idosos participantes. “Houve uma incidência significativa de quedas entre os participantes, sugerindo a necessidade de uma análise mais aprofundada dos fatores contribuintes para orientar estratégias preventivas e intervenções”, aponta.
Conforme a orientadora do estudo, os resultados indicam desafios específicos na geriatria, incluindo as mudanças fisiológicas que afetam a metabolização de medicamentos. “Essas considerações são essenciais para uma prática clínica informada e segura”, diz. Além disso, corroboram com a literatura existente, uma vez que os efeitos colaterais observados reforçam a importância de um monitoramento próximo dos idosos em tratamento com sertralina.
Para a professora Isabela Cabral, os resultados reforçam a importância da psicofarmacologia na geriatria e ressaltam os desafios específicos enfrentados ao tratar idosos, incluindo as mudanças fisiológicas que afetam a metabolização de medicamentos. “Diante dos achados, destaca-se a necessidade contínua de investigações mais aprofundadas, incluindo estudos comparativos e ensaios clínicos, para validar e generalizar os resultados, bem como para avançar no entendimento da segurança e eficácia da sertralina em idosos”, alerta.
De acordo com a médica docente, uma abordagem colaborativa e interativa é essencial para avançar no entendimento da segurança e eficácia da sertralina em idosos, tendo em vista a busca pelo aprimoramento constante da qualidade de vida e bem-estar dessa população.
Para acessar o artigo “Efeitos colaterais e farmacovigilância sobre o uso de sertralina em idosos: um estudo observacional” na íntegra, clique aqui.
(Imagem de destaque: Rattanakun/Reprodução/Canva Education)